3.3.09

Relato nº 3


Mãe: Samanta M. CunhaSão Paulo/SP - Brasil



"Na minha primeira gravidez, amamentei exclusivamente por 4 meses. Após orientação do médico, introduzi alimentação sólida. Essa atitude, somada à falta de informação (era 1995 e as campanhas não eram tão fortes como são hoje) e inexperiência (tinha 17 anos), passei a substituir o leite materno por fórmula. Vi com o passar do tempo os efeitos negativos disso: minha filha adoecia muito mais, tinha severas prisões de ventre e passou a usar chupeta, que trouxe prejuízos para sua dentição, fala e respiração. Sem contar o trabalho de lavar e esterelizar a mamadeira de madrugada e a falta de praticidade que era preparar o leite em um passeio, por exemplo.

Onze anos depois, nasceu minha segunda filha. Incentivada por campanhas e amigas que amamentaram ou amamentam seus filhos, tinha toda informação sobre os benefícios para o bebê, mãe e família. Indo mais além, até mesmo para o planeta, uma vez que amamentação é ecologicamente correto. Meu desejo era amamentar exclusivamente por 6 meses e prosseguir por 2 anos ou mais. Tive um parto cesáreo, apesar de desejar parto normal, pois ela estava em posição pélvica. Anestesiada e com muitas dores, não amamentei-a na primeira hora de vida. Quando ela chegou para mamar, não pegou o seio de primeira. Após um tempinho, assim que ela abocanhou o bico, comecei a sentir dores agudas em função das fissuras. As enfermeiras do hospital me alertavam: a pega está incorreta. No terceiro dia, o leite desceu e me deparei com mais uma dificuldade. Uma enfermeira, mais solícita e acolhedora quer as outras, ajudou à mim e a meu marido nos orientando como tirar o excesso de leite, cuidar das mamas e posicionar a pega correta. Ela foi fundamental para a situação não ficar ainda mais difícil em casa, quando voltamos do hospital. Um mês depois de muito sofrimento por causa das fissuras e bico rachados, pensei muitas vezes em desistir de amamentar. O que gerava muita angústia, pois queria muito amamentá-la.

Recebi apoio e orientação de algumas amigas, via internet, que me apresentaram à concha que protege os bicos machucados nos intervalos das mamadas, ajudou bastante. Depois de dois meses, em uma consulta de rotina com o pediatra, saímos apreensivos. O médico, com ar preocupado, alertou para o fato de que minha filha não havia engordado como deveria (estava com o mesmo peso de quando saiu da maternidade). Foi desolador. Chegamos até a fazer exames de sangue e urina para descartar algumas doenças. Me senti impotente e "incopetente" por não dar para minha filha o que ela precisava. Meu marido não falava em leite insuficiente, mas eu percebia seu ar de preocupação e descrença. Aquela situação, entretanto, não me desanimou. No fundo eu sabia que o melhor leite para minha filha era o meu.

Busquei informaçãoes em um grupo virtual de apoio à amamentação de um site de relacionamentos e lá obtive toda informação necessária. Descobri o método de relactação por meio de uma mãe brasileira muito generosa que mora nos EUA e repassava todo apoio e informação que obtinha na La Leache League, além de outras mulheres que, junto com ela, moderavam a comunidade virtual. Com três meses e meio, quando voltamos ao consultório, minha filha ganhava peso à olhos vistos. O médico, desconcertado, disse que ouvira falar de relactação, mas nunca viu nenhuma mãe que tivesse feito. Se não fosse aquele grupo de mães, certamente minha filha não teria sido amamentada. A relactação durou só 1 mês e meio, pois logo minha produção se ajustou à demanda da minha filha.

Hoje, com 8 meses (OBS: relato enviado no verão de 2008) ela é amamentada em livre demanda e se alimenta de sólidos 3 vezes por dia. É um bebê saudável e muito feliz.

Aprendi com isso tudo muitas coisas:-

Que devemos acreditar no nosso corpo.

Não existe leite fraco e os três primeiros meses são mais difíceis mesmo.

Tudo é uma questão de tempo para o corpo da mãe de ajustar às necessidades do bebê e acertar a pega;

- A livre demanda é fundamental para o sucesso da amamentação. E isso requer paciência e dedicação;

- É um aprendizado, tanto para o bebê quanto para a mãe. Devemos estar abertas para esse aprendizado diário;

- Buscar informação e grupos de apoio formado por outras mulheres, que também amamentaram, pode ser mais crucial do que a orientação de alguns profissionais de saúde que não defendem a causa;

- Confiar nos benefícios da amamentação e se informar sobre eles nos deixa mais seguras e protegidas de comentários que desestimulam.

A amamentação aqui em casa é um hábito que se incorporou à rotina da família, de forma natural. Fortalecemos o vínculo mãe-bebê-pai e família. Meu marido está mais confiante e segura da nossa capacidade como cuidadores, após testemunhar minha perseverança. Hoje defende e assegura esse benefício para mim e nossa filha e a irmã mais velha certamente está levando esse aprendizado para quando for sua hora de amamentar."



A Samantha foi uma das mães que respondeu ao meu chamado quando estava querendo editar uma revista eletrônica, projeto que não teve continuidade por falta de ...mão de obra. Eu sou a líder, a divulgadora, a organizadora das reuniões, a blogueira, a idealizadora e vendedora dos produtos para arrecadar dinheiro...(não sou artesã orque sou a negação de trabalhos de artesanato, sic). Mas o projeto descansa num lado da minha mente aguardando o momento certo para pipocar de novo...



Obrigada Samantha!

- por ter acreditado, por não ter desistido e por este lindo depoimento-

2 comentários:

Sam disse...

Oi Francesca, que alegria ver o meu depoimento aqui nessa espaço tão bacana e importante. eu é que agradeço!

Bom, eu sei que todas as lutas importantes são tocadas por "formiguinhas artesãs" especiais como vc. Então vou torcer para que o projeto da revista dê certo, junto com todas as outras iniciativas que vc promove.

um beijo e um abraço.

francescaromana99 disse...

Sam, a alegria foi toda minha em ter recebido seu relato e sua foto, poder ter postado apesar de não ter sido o projeto original...para que mais pessoas conhecessem sua história... mias uma vez obrigada!