27.3.09

LLL MACEIÓ FESTEJA 30 ANOS!

Hoje queremos fazer uma homenagem ao primeiro grupo LLL no Brasil: La Leche League Maceió, fundado em 1979 por Rebecca Magalhães, há anos coordenado por Pajuçara Marroquim com a colaboração de Damaris Lopes, desde que Rebecca voltou para sua terra natal, os EUA.


Para fazer isto, pedimos autorização à Pajuçara de reproduzir na integra o "boLLLetim" que ela edita a cada dois meses desde... 1980!


Rebecca e Pajuçara são autoras também do único livro de La Leche League em língua portuguesa "Amamentar Porque Não?", publicado pela editora da UFAL, que pode ser adquirido pela internet (http://www.edufal.com.br/).


E agora:



B O L L L E T I M I N F O R M A T I V O


Janeiro - Fevereiro 2009 Vol. 30 - N° 01


BOAS MÃES ATRAVÉS DA AMAMENTAÇÃO

1979 /2009 – La Leche League de Maceió: 30 anos investindo no futuro, informando, orientando, incentivando e apoiando a amamentação no Brasil.




Nota da Editora: A La Leche League de Maceió (LLLM), neste ano está completando 30 anos de atividades ininterruptas. Para celebrar a conquista, estamos publicando o artigo escrito pela Lavínia, membro da LLLM, mãe do João Juvenal, onde ela descreve o apoio de seu esposo Rodrigo, bem como o da LLLM para o sucesso da amamentação de seu filho. Dedicamos esse depoimento e os 30 anos de atividades, à fundadora da LLLM e sempre amiga Rebecca (Becky) Magalhães, que nos confiou o grupo há 20 anos, e sempre apoiou e apóia efetivamente nosso trabalho.


UMA AMAMENTAÇÃO E MUITOS APRENDIZADOS

Desde nova eu sonho em ter filhos, mas nunca sonhei especificamente em amamentar porque nunca foi algo que tivesse visto durante a minha infância. No entanto, por diversas razões na minha vida, amamentar foi algo que estava determinada a fazer, sem me importar com obstáculos no caminho. Aqui, conto como superei todos os meus obstáculos.



Redução de mama: o mito

Por razões estéticas, quando completei 15 anos minha mãe autorizou-me a realizar uma cirurgia de redução de mama. Lembro-me como hoje que a maior preocupação da minha mãe era se eu conseguiria amamentar. Em todas as consultas pré e pós-operatórias isso era perguntado e o médico dizia claramente que eu conseguiria amamentar. O tempo passou, e a notícia de que amigas que haviam realizado a mesma cirurgia, tiveram filhos e não conseguiram amamentar começou a se alastrar, ganhar força e confundir minha cabeça. Passei a ir a ginecologistas e perguntar a respeito, e todos me confirmavam que eu não conseguiria amamentar. Até engravidar, foram 12 anos de preocupação e consultas a médicos, onde perguntava, inclusive, se não existiria algum exame que pudesse ver se eu poderia amamentar.
A minha preocupação passou a ser a do meu esposo e, assim que engravidei, minha ginecologista mandou que procurasse a Pajuçara, coordenadora da Liga do Leite de Maceió. Participei da minha primeira reunião aos 3 meses de gravidez e o tema era “os benefícios da amamentação”. A cada novo benefício comentado pelas mães, ao invés de feliz com os «poderes» da amamentação eu ficava cada vez mais triste e me perguntando o que estava fazendo ali se não conseguiria amamentar. Pensei em sair da reunião, mas fiquei com vergonha. No final da reunião, criei coragem e disse exatamente isso para Pajuçara. Ela, de imediato, rechaçou a idéia de que eu não amamentaria e indicou vários depoimentos em seu livro, de mães que realizaram a cirurgia e amamentaram sem problema algum, pois desde o início ela me disse que o sucesso da minha amamentação estava no psicológico: se confiasse que amamentaria eu teria sucesso, de outro modo, eu poderia fracassar.
Descobri, então, que a chave do sucesso para amamentação após a redução de mama era exatamente o psicológico. Ao escrever essas linhas não posso deixar de notar que talvez essa seja a chave para o sucesso de toda e qualquer mulher, visto que, se a mãe deseja muito amamentar, pensa positivo e visualiza-se amamentando com muito leite, ela conseguirá. É “o segredo”. Bem, assim o fiz durante toda a gravidez.
Devido à cirurgia, havia perdido a sensibilidade nas mamas, por isso, não senti a mama sensível, mas, no 4º mês de gravidez eu já possuía muito colostro, segundo minha médica. A partir daí, tive a certeza de que eu conseguiria amamentar, pois já possuía colostro. Ainda assim, muitos ao meu redor tentavam me preparar para a mera possibilidade de eu não conseguir amamentar, com medo de que eu me frustrasse muito se não conseguisse.
Dizia a todos, com a maior certeza do mundo, que eu conseguiria amamentar. De onde veio essa vontade e essa certeza eu não sei, mas, em determinado momento, passou a ser uma questão de honra mostrar a todos que eu conseguiria amamentar.

Sem stress e com a maior certeza do mundo, pedi às médicas que colocassem o bebê para mamar entre 20 e 30 minutos após ele ter nascido e não deixassem passar desse prazo, pois havia lido que o reflexo de sucção até esse período é maior. Assim foi feito. Ainda estava na mesa de cirurgia (após o bebê nascer), quando minha obstetra e a pediatra começaram a tentar fazê-lo pegar o peito, sob protesto das enfermeiras, já que eu ainda não estava pronta após o parto de cesárea. Como meu mamilo era plano, ele demorou um pouquinho, mas logo pegou o peito normalmente. Mamou mais um pouco essa noite e dormiu quase a noite toda, vindo a mamar novamente de manhãzinha.
Alguns desestímulos ainda vieram de alguns médicos, outros demonstraram preocupação, mas eu simplesmente resolvi ignorar. Os comentários negativos ou incentivadores de leite artificial entravam por um ouvido e saiam pelo outro, sem maiores problemas ou chateações.
Sentia-me realizada amamentando e despreocupada com o fato de que a mama havia retornado ao tamanho que era antes da redução, o que também pode ser outro fator psicológico que influencie a quem se submeteu a uma redução de mama.

Mamilo plano e rachado: o verdadeiro problema

Saí do hospital com vitamina E prescrita pela obstetra para cicatrizar o mamilo e com a informação de uma pediatra de que o leite gordo só saía completamente após 40 minutos, ou seja, o bebê teria que ser amamentado em cada peito por 40 minutos até ser levado para o outro peito. Segui as orientações médicas.
A primeira semana com o bebê foi tranqüila. O problema começou a partir da segunda, quando o mamilo ferido parecia que tinha sido aberto, sem anestesia, para uma aula de anatomia. Sobre a carne crua do mamilo dava para ver os canais de onde saía o leite. Comecei, então, a usar a vitamina E prescrita. Realmente começou a cicatrizar bem rápido. Mas imaginem que a cada hora, sobre um começo de cicatriz o bebê mamava, tirando a casquinha e deixando o local pior do que estava. Foi a pior dor física que já senti na minha vida. E isso se prolongou por muito tempo, cada dia agravando mais a situação. Para piorar, passei a ouvir inúmeros conselhos diferentes, principalmente, o de deixar o mamilo exposto o maior tempo possível, bem como deixá-lo ao sol. Com isso, parecia que o mamilo estava, literalmente, sendo comido durante as mamadas, tanto pela dor, quanto pela aparência. Depois de 15 dias tentando de tudo sem melhoras (gelo para amenizar a dor, remédio para não sentir dor, secador para cicatrizar etc), uma noite não agüentei, e passei a agradecer a Deus os momentos que o João estava dormindo ou sem mamar. Quando ele pegava no peito eu me contorcia toda, chorava e, até, gritava de dor. Era uma tortura. E ao perguntar para as médicas o que deveria ser feito, todas elas diziam que nada poderia ser feito, pois o primeiro mês era assim mesmo. Passei a ter raiva das mulheres que diziam que amamentar era a experiência mais maravilhosa do mundo, pois nunca havia sofrido tanto em toda a minha vida. Uma força interior, porém, me motivava a continuar e agüentar a dor.

Houve um dia que não agüentei mais. De madrugada, chorando, pedi ao meu esposo que comprasse uma chupeta para dar tempo de eu tirar leite e dar ao bebê no copinho. Como ele havia lido o livro da Liga do Leite comigo, ele parou e me perguntou se não haveria uma outra saída. Isso foi lindo, mas, chorando muito, aos berros e soluços, disse a ele que precisava de um tempo para tirar leite e dar para ele, e não conseguiria com ele chorando. Ele comprou a chupeta e o João Juvenal pegou na mesma hora, sem maiores dificuldades. Mas, quando me mostraram ele de chupeta, eu chorava tanto que não conseguia tirar leite quase algum. Acalmei-me depois de uma hora chorando, dei leite para ele no copinho e fiquei me perguntando o resto da noite qual a real razão de eu não querer dar leite artificial, já que tantos meninos se criavam assim. Ao falar para o meu marido, ele me respondeu que se eu fizesse isso nós iríamos perder muitas noites, preocupados com o menino doente. Fiquei feliz novamente, pois no meu único momento de fraqueza, encontrei apoio do meu marido para continuar a amamentação.

No entanto, até então minha dor ainda não havia passado. No final de cada mamada eu me perguntava se agüentaria uma outra, mas as energias se renovavam após uma hora de descanso entre as mamadas. No final do outro dia, parecia que eu não agüentaria mais. Foi quando me lembrei que a Pajuçara fazia “consultas telefônicas” a mães desesperadas, e resolvi ligar. Durante uma mamada, chorando compulsivamente de dor e desespero, mas sem querer demonstrar, resolvi dar uma última chance à amamentação e liguei para ela. Como são dicas muito importantes, resolvi dar destaque ao que a Pajuçara me disse nesse telefonema:

A primeira coisa que me disse foi que a dor não fazia parte da amamentação, o que foi uma grande felicidade, pois para todos com quem conversava parecia que a dor era algo normal e eu teria que conviver com ela;

Depois me disse que não sabia como eram meus mamilos, mas que eu não deixasse de usar “as conchas” de silicone (a dura dos dois lados, para formar mamilo) e só tirasse quando o bebê estivesse pronto e posicionado na frente do peito, para não dar tempo de o mamilo se retrair;

A mamada não precisava durar os 40 minutos cronometrados no relógio, como eu fazia, pois na amamentação não existe horário. Quando o bebê reclamar já pode passar para o outro peito, pois o leite gordo demora poucos minutos para sair, já que o primeiro leite é mais ralo para matar a sede, porém, logo depois já vem o leite gordo;

Também me disse que não passasse nada nos mamilos, visto que o leite e a saliva do bebê eram cicatrizantes, e que só precisavam de 5 minutos de exposição ao ar livre após a mamada, e entre 2 e 5 minutos de sol para ajudar a cicatrizar;

No final, orientou-me quanto à posição correta do bebê: barriga do bebê encostada à sua barriga, e joelhos do bebê voltados para você.


Foram mais de 30 minutos de um telefonema tranqüilizante e motivador, pois ela me falou que no outro dia eu iria sentir uma melhora.

Terminei aquele telefonema e aquela mamada com as esperanças renovadas. Uma hora depois o João já queria novamente mamar e, qual não foi a minha surpresa quando, seguindo as orientações dela, não senti nenhuma dor. O peito ainda estava rachado, comido, sangrando e em carne viva, mas eu não sentia nenhuma dor.
Se existe milagre, esse foi um deles. A minha amamentação, então, passou por duas fases: “a.P e d.P” – antes da Pajuçara e depois da Pajuçara. Sei que este não é o momento mais indicado, mais gostaria de agradecer a ela por tudo o que fez por mim e pelo meu filho.

Bebê dorminhoco

No entanto, o fato de deixar o bebê por 40 minutos em cada peito me gerou um outro problema (além das rachaduras): ele passou a dormir direto no peito. Quando eu tirava, ele acordava e começava a chorar. Assim, continuei passando muito tempo com o bebê no peito e passei a achar que ele estava “viciado em peito”. Com isso, o mamilo não cicatrizava.
A única saída que me davam para resolver o problema era colocar uma chupeta, já que o João Juvenal estava fazendo o peito de chupeta.
Dessa vez resolvi não esperar tanto. Uma semana sem dar chupeta nem conseguir ir ao banheiro, pois ele chorava, liguei para a Pajuçara. Ela me disse que, provavelmente, o bebê estava apenas dormindo no peito e não mamando, e que para verificar isso, bastava eu colocar meu dedo mindinho no pescoço dele para ver se estava engolindo ou chuchando e, se ele estivesse chuchando e não tivesse se alimentado, eu deveria acordá-lo para mamar mais. No entanto, se ele já tivesse se alimentado, eu deveria tirá-lo do peito e só dar novamente com um intervalo mínimo de 1 hora, ainda que ele chorasse (e eu soubesse que não era de fome). Pronto, depois de cerca de 15 dias eu tinha o problema totalmente resolvido: meu peito estava cicatrizado e o bebê só dormia no peito pelo tempo que eu desejasse.

Resultado da amamentação: bebê gigante e doação de leite

Antes de amamentar sabia que poderia ter dificuldades, mas para cada uma delas haveria uma solução. Meu problema foi que, inicialmente, fui buscar a solução em pessoas que não sabiam quais eram as causas dos meus problemas, apenas seus efeitos. Agora sei que, para toda dificuldade existe uma solução, porém, ela deve ser buscada com quem entende e tem experiência no assunto.
No primeiro mês, com todos os problemas que tive, o João Juvenal engordou 630g. Fiquei super feliz, mas a pediatra, ainda preocupada com minha redução de mama, falou que ele precisava ter engordado mais 70g para ficar na média, desconsiderando que ele havia crescido 5,5 cm (acima da média) e me pediu para complementar com leite artificial a alimentação dele. Isso não foi feito.
No segundo mês, seguindo as orientações da Pajuçara, meu bebê engordou 1 kg – 300g acima da média e cresceu 2,5 cm, levando a pediatra a perguntar se ele havia tomado fermento. Com dois meses ele começou a querer ficar em pé, já sustentava a cabeça, gargalhava muito, se virava, e inúmeras outras coisas que só anunciam para bebês de 4 meses.
No terceiro mês o João Juvenal nunca ficou doente. É muito esperto! Engordou novamente 1 kg e aumentou 4 cm. Hoje, com três meses e meio, ele possui o tamanho de um menino de 6 meses e meio: 6,6 kg, 65 cm e perímetro cefálico de 42,5 cm. Ele parece um gigante e é super saudável!
Eu tenho tanto leite que me acordo de duas em duas horas à noite para tirar. Por conta disso, tenho tanto leite estocado que fiz uma grande doação a hospitais da região. Para vocês terem uma idéia, o meu leite estocado não coube no isopor que eles trouxeram da primeira vez. É irônico perceber após essa jornada, ainda no começo para nós, que uma pessoa que não deveria ter leite, na verdade, tem tanto que o doa para ajudar outras mães e outros bebês.
O João Juvenal hoje começa a espaçar mais entre as mamadas, e já começo a sentir tanta falta dele que a necessidade da amamentação já passou a ser minha.
Finalizo pedindo a todas que acreditem na amamentação (sem dor), nos seus benefícios e procurem soluções com as pessoas adequadas se os problemas surgirem.

Lavínia Cavalcanti Lima Cunha
Mãe da La Leche League de Maceió
Maceió,AL.




A La Leche League de Maceió está muito feliz por festejar seus 30 anos com vocês


...e La Leche League Brasília está muito feliz por festejar junto com o grupo irmão de Maceió uma meta tão importante!



3 comentários:

Isabella Kantek disse...

Lindo depoimento!
Estou nos EUA e freqüento as reuniões da La Leche todo mês. O meu bebê vai fazer 4 meses e eu tenho pensado em traduzir alguns artigos que possam ajudar o público brasileiro. O website kellymom.com é excelente, vou tentar entrar em contato com a Kelly e pedir permissão para traduzir o site dela aos poucos. Caso se interesse em uma parceria, por favor entre em contato comigo:
isabellaPONTOkantekARROBAgmailPONTOcom

Abraços,

francesca disse...

colaboraborações são sempre bemvindas! isabella, vou te escrever para conversar sobre uma parceria...

Sabrina Silva disse...

Olá, meu nome é Sabrina. Sou treinante e tenho muitas duvidas sobre se vou conseguir amamentar pois fiz uma mamoplastia redutora há 11 anos e tenho o mamilo plano. Já estou usando um formador de bico (niplete) antes msm de engravidar, mas gostaria de adquirir o livro sobre amammentação após essa cirurgia. Sou de BH, me ajudem!!!